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Coaching: o rico e tóxico mercado das fórmulas prontas para sua vida

O IBC_Instituto Brasileiro de Coaching, descreve o coaching como sendo um processo, uma metodologia, um conjunto de competências e habilidades que podem ser aprendidas e desenvolvidas por absolutamente qualquer pessoa pra alcançar um objetivo na vida pessoal ou profissional, até 20 vezes mais rápido...

08/07/2019 às 16h40 Atualizada em 10/09/2020 às 16h27
Por: Cláudio Bertode
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Imagem da internet
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Quem pode ser coaching? Todo mundo, absolutamente qualquer pessoa. Basta ter uma boa experiência de resiliência, resiliência é muito importante, soma-se a isso uma boa dose filosofia positiva, e alguns bons exemplos de superação pessoal. Se for alguém que saiu de uma situação extrema e conseguiu dar a volta por cima, melhor ainda. O que não cai bem é vender uma imagem, vender um processo que não aplica em si mesmo. Para vender uma boa imagem de coaching, é preciso viver dia e noite a filosofia que está vendendo. E mais que viver o que vende, para mostrar a seu cliente que você se tornou alguém próximo da perfeição humana por adotar as atitudes vendidas, é preciso convencer todos a sua volta de que os procedimentos e atitudes que você vende é uma fórmula secreta que está dividindo e que se trata de algo a ser aplicado em qualquer situação e por qualquer ser humano, seja você alguém sofisticado ou alguém de uma vida simples. Essa ideia de um procedimento universal é o que faz de tudo isso algo que chega a beira do insano, e faz com que a vida pós moderna se torne chata com pessoas tentando viver por meio de fórmulas prontas, seja no trabalho, seja em família, seja na igreja, em todos os lugares existem padrões de comportamento e modos de agir. E as pessoas reais ficam sufocadas e são malvistas nessa sociedade do coaching.

O problema não é da pessoa que trabalha vendendo uma solução que deu certo, uma filosofia que ajudou a superar realidades adversas, o problema é que cada vida é única, e nem todas as soluções servem para qualquer problema, nem mesmo é provado cientificamente que um problema semelhante terá a mesma solução, uma vez que cada contexto em que uma pessoa vive, é diferente, uma vez que do nosso contexto fazem parte vidas também diferentes e os resultados, as consequências de nossos atos dependem das atitudes de todos esses outros seres que nos rodeiam: esposas, filhos, líderes religiosos, vizinhos, chefes, clientes, governo, amigos e tantos outros. Resultado: os caminhos da sua vida não dependem apenas de sua resiliência.

Em outra vertente, será preciso que aceitemos que existe toda uma confluência de atitudes que gerarão consequências e que afetarão diretamente suas expectativas. E é nesse ponto, que nem sempre uma filosofia positiva será bem-vinda. Às vezes, será preciso saber desistir, saber aceitar a derrota, saber ligar o foda-se e chutar o pau da barraca. Ou isso, ou algo pior, como ansiedade, depressão, estresse alto, mágoa reprimida, síndrome de pânico. Nem sempre será importante mostrar ao mundo que você é bicho forte, que você é uma rocha inabalável, que você é proativo mesmo diante de um chefe tóxico, diante de um relacionamento que não depende apenas de você, de suas atitudes positivas, nem sempre vai adiantar olhar o lado bom da situação, uma vez que existem situações que não possuem lado bom algum para ser olhado.

Assim, é necessário rever a ideia da resiliência extrema coaching, reavaliar o conceito de que existem soluções prontas esperando por você em uma palestra de poucas horas e caríssimas. É tanto consultor, tanto coaching, seja os que vedem milkshakes sem leite, sem nutrientes, sem sabor, para resolver seu problema de falta de exercícios, resolver sua falta de uma boa alimentação. O que poderia ser a solução mágica, pode vir a ser prejudicial, uma vez que nem sempre vale a pena persistir num emprego que não dá certo, ou num sonho que não se realiza, ou num relacionamento que mostra todos os contornos de ser uma planta sem futuro. A filosofia positiva não ensina quando é hora de parar, de desistir.

Já que todos podem ser coaching, faça o curso, seja seu próprio coaching, crie uma filosofia de vida para você mesmo, dê consultoria para si mesmo, faça sua própria receita de vida, mas pare de pagar caro a esses lindos e belos seres que aparecem em cada esquina, em livros, em palestras caríssimas, esses seres que sempre se sobrepuseram ante aos problemas mais extraordinários, que venceram e prevaleceram em lugares e situações extremas. E sempre vai ficar a verdade de que “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Ou seja, se aproximar bem desses seres verá que o que contam é apenas uma ficção para que suas vidas pareçam mais interessantes que são. Bem de perto somos apenas seres humanos, pequenos, ínfimos diante do universo desconhecido de nós mesmos.

 

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