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Pandemia muda jeito de fazer política nas cidades do interior

Nada de caminhadas pelos bairros em fins de tarde, nada de visitas com cafezinho...

18/06/2020 às 16h08 Atualizada em 21/09/2020 às 10h11
Por: Cláudio Bertode
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Pandemia muda jeito de fazer política nas cidades do interior

Os protocolos, o clima de isolamento, de afastamento social, farão dessa eleição um marco no jeitinho de fazer política no Interior de Goiás. Aqui ainda temos uma política muito forte no que diz respeito ao chamado corpo a corpo. Fazemos as famosas visitas regadas a cafezinho, longas e longas horas de prosa. E ai do candidato que não faz uma visitinha.

A gente do interior é desconfiado e não confia em candidato que não anda no meio do povo. Que não tira um tempinho para vir pessoalmente expor suas ideias para nossas famílias, e tem de beber pelo menos um copo d'água, tem passear pelo quintal e ver como estão lindas nossas plantas, e tem de provas o licorzinho de jabuticaba que fizemos em outubro passado. E se acaso o sujeito nem entra para dentro, fica só no apertozinho de mão, entrega santinho e já vai embora. Chi!! Esse perdeu o voto. Já saímos com a impressão de que o dito cujo não gosta de pobre. E não ficamos apenas nisso, vamos falar mal desse exibido para o resto da vida.

Sim, nós do interior guardamos mágoa bem fácil, basta não ser humilde o bastante, basta querer levar o voto no grito. Aqui é preciso batalhar cada voto. Com muito respeito. Fazer as reuniões, ter paciência. Nem adianta distribuir folhetozinho em caixa de correio ou jornalzinho, sem antes ganhar nossa confiança, mostrar que é um de nós, que é gente como a gente. 

Essa sempre foi a receita. E sempre deu certo. Agora com a Pandemia, com a quarentena, com o isolamento social, com o distanciamento e o impedimento das aglomerações, fica uma dúvida no ar. Como será nossa eleição municipal de 2020? Como vai ser a campanha via redes sociais? Como ter esse contato humano com nosso candidato? Como saber se ele é digno de confiança, sendo que as redes virtuais potencializam as máscaras que usamos? Dificilmente encontramos uma pessoa que consegue ser ela mesma no mundo virtual. Nós do interior vamos ter muita dificuldade em julgar nossos candidatos apenas em lives, em entrevistas, em postagens no universo da internet. 

por outro lado, a rede social permite que analisemos a desenvoltura de nossos candidatos, que analisemos a capacidade de cada um em lidar com debate de problemas e ideias para nossa cidade. E tem também o lado do aprendizado para nós eleitores, vamos ter de nos acostumar a outra maneira de lidar com nossas eleições. Vamos ter de aperfeiçoar nossos mecanismos de julgamento. Até por que nem sempre quem toma cafezinho em nossa casa, quem batiza nossos filhos, quem elogia as plantas que temos no quintal, que caminha com muitas bandeiras pelo nosso bairro, é de fato um bom político e nem sempre é o bom administrador, o bom vereador que nossas cidades do interior precisam. 

 

 

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