A professora, às vezes, ficava furiosa, brigava com a menina por causa dos chicletes. Certo dia, ao repreender e aconselhar que gomas de mascar estragavam os dentes, um risinho de um dos coleguinhas de Odete deixou Dona Inária intrigada. Então a professora perguntou o porquê de Jonas estar sorrindo. O menino explicou que a coleguinha não estava mastigando chicletes e, sim, a própria borracha. Isso mesmo, professora! Ela come a borracha. Olha como está toda roída.
Era verdade. A professora agora enxergava, agora percebia Odete por várias vezes com a borracha na boca, a menina até babava um pouco. Aquela mastigadinha. Limpando na toalhinha a baba provocada por mastigação constante. E agora a professora notava que a menina vinha falar com ela com a boquinha cheia de borracha, pedacinhos podiam ser vistos entre os dentes de ratinha. “Mas Odete, não pode fazer isso, faz mal, é anti-higiênico!”. Odete nem ligava. Sempre alheia a tudo. Quieta no canto, calada. Era uma menina magra, mãos trêmulas, apesar da pouca idade, tinha as mãozinhas um pouco grandes. As unhas com um pouco de terra.
Aos poucos ela não quis mais lanchar na cantina da escola e passou a ficar o recreio todo em um canto do pátio, lá podia ficar em paz e devorar seu manjar preferido. Incompreendida, Odete ruminava os enigmas do universo em módicas doses de mastigação e degustação do que ninguém jamais seria capaz de entender...
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